Desde as primárias republicanas, Donald Trump chamou atenção por suas propostas e declarações polêmicas.
De certa forma, o politicamente incorreto se tornou uma de suas marcas registradas.
A BBC Brasil listou 30 promessas, acusações e opiniões do presidente eleito dos Estados Unidos – resta agora saber o que é real e o que, como desconfiam analistas, não passa de retórica (bem-sucedida) de campanha.
Confira:
1. Americanos de origem árabe comemoraram os ataques de 11 de Setembro
Trump fez reiteradas declarações afirmando que, em 11 de setembro de 2001, milhares de americanos de origem árabe celebraram em Nova Jersey os ataques aéreos às torres gêmeas em Nova York.
Ele afirmou que tais comemorações “dizem algo” sobre muçulmanos morando nos EUA.
No entanto, não há nenhum registro que comprove as afirmações de Trump.
2. Mesquitas nos EUA deveriam ser vigiadas
Trump acredita que muçulmanos devem ser rastreados e alvo de leis antiterrorismo.
Em relação ao tema, ele voltou atrás em alguns pontos como, por exemplo, na posição de manter um banco de dados de todos os muçulmanos nos EUA, mas reitera que não se importa em ser considerado politicamente incorreto por defender o monitoramento de mesquitas.
3. Mulheres devem ser julgadas pela aparência
Um vídeo de 2005 exibiu Trump fazendo comentários obscenos e misóginos sobre mulheres e provocou numerosas alegações de assédio sexual contra ele.
Num comício, ele sugeriu que uma dessas mulheres que o acusou não era atraente o suficiente para ser assediada.
Além disso, pessoas que trabalharam em seu reality show O Aprendiz o acusaram de julgar concorrentes do sexo feminino pela aparência.
E uma ex-Miss Universo, concurso do qual ele é dono, o acusou de misogenia – Trump a chamou “Miss Piggy” depois que ela ganhou peso.
4. Idade limite para mulheres é 35 anos
Num áudio divulgado pela rede CNN, no qual Trump comenta o corpo de suas próprias filhas e sobre namorar mulheres mais jovens, ele diz que 30 anos é a “idade perfeita” para elas – e que, ao completarem 35 anos, devem “sair de cena”.
5. EUA deveriam usar afogamento como método de interrogatório
Trump já defendeu métodos de interrogatório controversos e bastante criticados, como afogamento, na luta contra o grupo autodenominado Estado Islâmico.
Argumentou que isso não é nada se comparado com práticas brutais adotadas pelos extremistas, como a “decapitação”.
6. Estado Islâmico deve ser mandado para o ‘inferno’
Além de declarar que o Estado Islâmico deve ir para o inferno, Trump afirmou reiteradamente durante a campanha que nenhum outro seria mais duro na luta contra o EI. Disse que pretende enfraquecer os extremistas cortando acesso ao petróleo nas regiões onde o conflito é mais intenso.
7. O mundo seria melhor se os ditadores Saddam Hussein e Muammar Gaddafi ainda estivessem no poder
Trump disse à CNN que ele acredita que a situação do Iraque e da Líbia estão “muito piores” do que estavam sob o comando dos dois ditadores falecidos.
Ao mesmo tempo em que admite que Hussein era um “cara horrível”, Trump avalia que o ex-ditador iraquiano “foi melhor” na luta contra os terroristas.
“Ele era um cara ruim. Muito ruim. Mas você sabe de uma coisa? Ele matou terroristas. Isso foi muito bom. Ele não lia os direitos para eles, eles não tinham voz. Eles eram terroristas. Pronto.”
8. Deve ser erguido um muro enorme entre EUA e México (e os mexicanos devem pagar por ele)
Trump defende construir um muro separando os EUA e o México. Durante a campanha, ele sugeriu que os mexicanos que vêm para os EUA são criminosos. “Eles estão trazendo drogas, cometendo crimes. E eles são estupradores.”
Um muro na fronteira, segundo ele, não só evitaria a entrada de latinos sem visto, como também a de imigrantes sírios.
Também disse acreditar que o México deve pagar pelo muro, que, conforme estimativa feita pela BBC, poderia custar entre US$ 2,2 bilhões e US$ 13 bilhões (R$ 7 bilhões e R$ 41 bilhões).
9. Os cerca de 11 milhões de imigrantes ilegais devem ser deportados
Estima-se que 11 milhões de ilegais estejam vivendo nos EUA – e, para Trump, todos deveriam ser deportados.
Apesar das críticas de que tal medida seja xenófoba e cara – a BBC estima que custaria US$ 114 bilhões (R$ 366 bilhões) -, o republicano diz que seu plano de deportação em massa é viável.
Além disso, afirma, suas reformas para a imigração iriam acabar com a cidadania concedida aos filhos de imigrantes ilegais que nasceram em solo americano. Ele não apoia nenhum tipo de caminho para legalizar a situação de trabalhadores sem documentos.
10. Muçulmanos não devem ser aceitos nos EUA
Em um comunicado para a imprensa, divulgado durante a onda de ataques terroristas em San Bernardino, na Califórnia, Trump defendeu fechar as portas do país para muçulmanos até que os políticos americanos entendam o que está acontecendo.
Mas voltou atrás e passou a defender aumentar as exigências para quem quer imigrar para os Estados Unidos.
11. Imigrantes sírios que buscam asilo nos EUA serão mandados embora
Trump diz acreditar que os ataques terroristas em Paris, ocorridos quase um ano atrás, provaram haver terroristas fingindo ser migrantes e capazes de provocar danos catastróficos.
E que, por isso, iria se opor aos pedidos de asilo de sírios nos EUA e prometeu deportar aqueles que já estão em território americano.
12. EUA deveriam investir no tratamento da saúde mental para evitar assassinatos em massa
Trump afirma não acreditar que um maior controle de armas seja a resposta para previnir assassinatos em massa.
Em um documento no qual se posicionou favorável ao direito de portar armas de fogo, o republicano revelou que ele próprio tem uma licença.
Para ele, “o governo não tem se meter em dizer que tipos de armas de fogo são boas nem definir se pessoas honestas devem ser autorizadas a portar armas”.
Trump também se opõe ampliar a verificação de antecedentes criminais antes de autorizar venda e porte de armas.
13. Vladimir Putin é um “líder”
Trump elogiou a liderança do presidente russo Vladimir Putin e criticou a atual relação dos EUA com a Rússia.
Em entrevista à CNN, disse: “Eu provavelmente iria me dar muito bem com ele. Não acho que teria o tipo de problemas que estamos enfrentando agora”.
14. É preciso criar um código de imposto mais simples
Trump quer que alguém que ganha menos de US$ 25 mil (R$ 79,5 mil) por ano não pague nenhum tipo de imposto sobre renda – a proposta prevê que essas pessoas apresentem um formulário único, de uma página apenas.
Ele também defende reduzir imposto sobre empresas para 15% e que multinacionais consigam repatriar dinheiro mantido no exterior a uma taxa de 10%.
15. Administradores de fundos de cobertura estão escapando de punições
Para o presidente eleito, o atual código tributário dos EUA protege administradores de fundos de cobertura (uma classificação genérica para fundos de investimento que aplicam em diversos mercados ao mesmo tempo e, assim, minimizam perdas com grandes oscilações).
A posição é compartilhada por integrantes do partido oposicionista, o Democrata, como a senadora Elizabeth Warren, para quem os administradores desses fundos não pagam impostos suficientes.
No entanto, analistas que avaliaram detalhes do plano de Trump para regular esses fundos afirmam que o efeito seria oposto: eles seriam beneficiados com corte de taxas.
16. Relação comercial com a China deve ser mais equilibrada
Para melhorar as condições de competição com a China, Trump diz ser preciso rever uma série de práticas.
Ele afirmou que vai forçar os chineses a parar de depreciar a própria moeda e a intensificar padrões internacionais trabalhistas e ambientais.
O presidente eleito também é crítico ao que chama de atitude negligente do gigante asiático em relação às regras de propriedade intelectual e pirataria.
17. Estatísticas de desemprego nos EUA estão equivocadas
Trump tem dito repetidamente que o desemprego é de 20% – uma vez chegou a citar a taxa de 42%.
No entanto, o órgão que contabiliza o número de pessoas sem trabalho nos EUA calcula que a taxa seja de 5,1%.
O republicano insiste, porém, que esse não é um número real.
18. Movimento em defesa de negros vítimas da polícia busca problemas
Trump zomba ex-candidatos democratas como Martin O’Malley, que pediu desculpas aos integrantes do movimento de protesto contra a brutalidade policial.
Durante a campanha, ele se lançou como o candidato que defende a aplicação da lei.
“Eu acho que eles estão à procura de problemas”, disse sobre o grupo Black Life Matters (“Vidas negras importam”). Também postou no Twitter um gráfico controverso, no qual pretendendia mostrar que os afro-americanos matam brancos e negros em taxas muito mais altas do que as mortes cometidas por brancos ou policiais.
Porém, o gráfico cita como fonte dos números um órgão fictício, o “Crime Statistics Bureau”.
As estatísticas divulgadas por ele têm sido amplamente contestadas por dados reais do FBI.
19. Patrimônio líquido pessoal é de US$ 10 bilhões (R$ 39,1 bilhões)
Baseada em 92 páginas de dados sobre o patrimônio pessoal de Donald Trump, a Bloomberg calculou que os bens do magnata valem cerca de US$ 2,9 bilhões. Para a Forbes, valem US$ 4 bilhões.
Em resposta, Trump insistiu em um comunicado de imprensa que seu patrimônio vale “mais de US$ 10 bilhões”.
Por mais de uma vez, disse que “autofinanciou” a própria campanha e descreveu seu início no mundo dos negócios como um “pequeno empréstimo de um milhão de dólares” de seu pai.
20. Plano de saúde dos veteranos de guerra deve ser revisto
Trump quer retirar o caráter executivo do Departamento de Assuntos de Veteranos, que cuida dos americanos que lutaram em guerras.
Ele afirma que o tempo de espera para consultas médicas de veteranos só aumentou, e culpou intervenções anteriores por isso. Milhares morreram enquanto na espera para atendimento, acrescenta.
O republicano promete investir no tratamento de “feridas invisíveis”, como estresse pós-traumático e depressão. E aumentar o número de médicos que se especializam em saúde da mulher para ajudar a cuidar do crescente número de veteranas.
21. Obamacare é um “desastre”
Trump diz ser favorável revogar o programa de saúde criado pelo presidente Barack Obama, que tem como objetivo ampliar o número de americanos atendidos por planos de saúde.
Ao mesmo tempo, o presidente eleito defendeu que “todo mundo tem que ser coberto” pelo sistema.
Um porta-voz dele disse à Forbes que Trump irá propor “um plano de saúde que irá devolver autoridade para os Estados e operar sob os princípios do livre mercado”.
22. Aquecimento global é balela
Enquanto diz acreditar que manter ar e água limpos é importante, Trump afirma que o fenômeno da mudança climática é uma notícia falsa.
Para ele, as exigências ambientais sobre empresas as torna menos competitivas no mercado global.
“Eu não acredito que devemos colocar em perigo as empresas dentro do nosso país”, disse à CNN. “Custa muito e ninguém sabe ao certo se vai funcionar”, declarou sobre as restrições ambientais.
23. Atuação de lobistas deve ser mais restrita
Quando candidato, Trump defendeu proibir que servidores públicos atuem imediatamente como lobistas tão logo deixem seus cargos no governo – propõe uma proibição de cinco anos para essa transição.
O presidente eleito também quer uma proibição definitiva para altos funcionários, impedindo-os de fazer lobby em nome de governos estrangeiros.
Pediu ainda ao Congresso para mudar as leis de financiamento de campanha na tentativa de banir que pessoas que fazem lobby para governos estrangeiros levantem fundos para as eleições americanas.
24. Sou um “cara muito legal”
Em seu livro mais recente, Crippled América (“América Debilitada”), Trump escreveu: “Eu sou um cara muito legal. Acredite em mim, me orgulho de ser um cara legal, mas também sou apaixonado e determinado a fazer nosso país grande novamente”.
Segundo o site Gawker, o republicano chama a si mesmo de um “cara legal” em vários momentos da obra.
Ele repetiu a autoavaliação em seu monólogo de abertura em participação no programa humorístico de TV Saturday Night Live e em entrevista ao Washington Post.
25. Tóquio e Seul devem construir arsenais nucleares
Para Trump, o Japão e Coreia do Sul não deveriam esperar tanto dos EUA e se beneficiariam se tivessem suas próprias armas nucleares.
Uma guerra nuclear entre o Japão e a Coréia do Norte, nas palvras de Trump, pode ser “terrível”, mas seria “muito rápida”.
26. A Otan é uma trapaça
O Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) é uma trapaça, diz ele.
Na sua avaliação, os EUA pagam mais do que ninguém para fazer parte da aliança.
Depois dessa declaração, porém, ele minimizou as críticas.
27. Os médicos devem ser punidos por administrar abortos
Em entrevista à emissora MSNBC, Trump disse que, se o aborto se tornasse ilegal, as mulheres devem ser punidas por fazê-los.
Ele se retratou dizendo que os médicos deveriam ser responsabilizados e punidos no lugar delas.
28. As regras eleitorais são injustas
Trump chamou o sistema interno para escolher o candidato republicano de “torto” e “injusto”.
Ele repetidamente entrou em confronto com os republicanos durante seu processo de nomeação e reclamou da forma como seus próprios correligionários trataram sua candidatura durante as primárias.
Para o presidente eleito, regras foram manipuladas para permitir que o senador Ted Cruz ganhasse mais delegados que ele em alguns Estados.
Ele também reclamou do processo eleitoral americano como um todo quando as pesquisas colocaram a democrata Hillary Clinton na liderança.
29. O salário mínimo federal deve aumentar
Trump acredita que o valor, de US$ 7,25/hora (R$ 23,23), deve ser reajustado.
30. Hillary Clinton é uma criminosa
Trump, por mais de uma vez, afirmou que sua adversária, a democrata Clinton, cometeu crimes.
Ele a acusou de ter subornado a advogada-geral dos EUA Loretta Lynch com a promessa de manter o emprego dela caso fosse eleita presidente e se escapasse da acusação do uso de e-mail privado quando era secretária de Estado. Em um dos debates, chegou a dizer que ela “estaria presa” se ele fosse presidente.
Também disse que ela “destruiu” as mulheres que acusaram seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, de atos impróprios.
Em seu discurso da vitória, porém, ele elogiou a adversária. Disse que Hillary “lutou muito” durante a campanha e que os americanos, incluindo ele, tem uma “dívida de gratidão” com ela pelos anos de serviços prestados ao país.
Fonte: BBC Brasil