Geografia Geral

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Estudantes brasileiros projetam base na Lua com orientação da NASA

Léo Miranda

7 de junho de 2016

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A EQUIPE DE UNIVERSITÁRIOS QUE PROJETOU A BASE LUNAR (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Estudantes brasileiros projetam base na Lua com orientação da NASA

Um clima de missão cumprida pairava no ar do auditório da Faculdade de Engenharia de Sorocaba (FACENS) na tarde desta terça-feira (31), quando estudantes e professores contaram para cerca de 50 pessoas como foi sua participação em um projeto internacional da NASA, organizado desde 2011.

A sensação é merecida: entre os 14 times envolvidos nesta edição, de diversas nacionalidades, os sete alunos da instituição foram os únicos que ainda cursavam a graduação — todos os outros participantes eram pelo menos mestres ou doutores. A experiência acadêmica dos jovens pode até ser pequena, mas eles esbanjaram comprometimento e dedicação. E isso, é claro, deixou o pessoal da NASA bastante impressionado.

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(FOTO: CONCEPÇÃO ARTÍSTICA DA BASE PROJETADA PELOS ESTUDANTES)
Pasadena é quase a Lua

Depois de dar uma palestra na FACENS em abril do ano passado, Lester gostou tanto do que viu que resolveu abraçar a causa de incluir a faculdade no SEE 2016, cuja proposta era nada menos que projetar uma colônia humana na Lua.

A equipe brasileira foi incumbida de arquitetar o módulo de habitação, onde os astronautas podem descansar. “A participação foi impecável”, afirma o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Flórida (BFCC, na sigla em inglês), Jefferson Michaelis, amigo de Lester e responsável direto pela ponte com a NASA. Foi Michaelis quem mais lutou para que os jovens sorocabanos entrassem no projeto. “O que estou fazendo é algo que gostaria que tivessem feito por mim há 30 anos.”

O presidente da BFCC teve a sacada de não revelar logo de cara aos estudantes que os demais grupos eram todos de pós-graduandos, evitando assim que se sentissem inferiores e desistissem de participar. A revelação só veio na reunião final do SEE, que ocorreu no início do ano. “Não fomos para a Lua, mas fomos para Pasadena”, brinca o aluno Daniel Rodrigues, do curso de Engenharia da Computação. “Só soubemos lá que eram todos alunos de doutorado.”

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(FOTO: CONCEPÇÃO ARTÍSTICA DA BASE LUNAR PROJETADA PELOS ESTUDANTES)

Naquele dia, ele ficou até 3 horas da madrugada preparando slides para uma apresentação de última hora que ocorreria cedo na manhã seguinte. Representantes da NASA, dos grupos e de empresas que estavam lá ficaram surpresos com a eloquência do jovem. “Ele deu um baile”, afirma Michaelis. Além da viagem para Pasadena, a FACENS também custeou a ida, no fim de março, de alguns membros do time para Liverpool, onde ocorreu uma conferência e a entrega oficial da simulação pronta.

Mas antes de concluir o projeto com louvor, o grupo teve de superar muitas dificuldades ao longo dos últimos cinco meses. A começar pela confirmação tardia da participação:enquanto os outros grupos já vinham trabalhando desde agosto, a equipe brasileira só colocou a mão na massa no dia 16 de dezembro. “Foi tudo muito rápido e intenso, os alunos tiveram de trabalhar nas férias e feriados para conseguir terminar tudo”, explica a professora Andréa Braga, coordenadora do Departamento de Relações Internacionais da faculdade que acompanhou de perto a iniciativa.

Grandes desafios

Outros empecilhos de ordem mais prática também existiram. Realizadas por videoconferência, as reuniões semanais de integração com todos os times, que ocorriam às quartas, frequentemente enfrentavam problemas de conexão e exigiam muita paciência dos participantes. Isso sem contar a dificuldade em entender o inglês carregado dos pesquisadores de lugares como o Japão, a Itália ou a Alemanha, além, é claro, da questão dos fusos horários.

“As reuniões podiam ocorrer de manhã ou tarde da noite”, diz o estudante Daniel Rodrigues. O software utilizado é uma espécie de Skype da NASA – chamado de VSee, é o mesmo que os astronautas usam na Estação Espacial. Também foi com ele que Mike Lester e Priscilla Elfrey participaram da cerimônia de terça (31).

Não é fácil coordenar o trabalho de tantas equipes espalhadas pelo mundo todo, cada uma trabalhando na linguagem de programação que bem entendesse. A FACENS usou Java, mas teve quem programasse em C++, Python e até PHP. Só um programa poderoso como o High Level Architecture (HLA, na sigla em inglês), usado pela NASA, para fazer a padronização e garantir que tudo funcionasse direito. Para aprender a operá-lo, os participantes tiveram todo o apoio técnico da agência e também de tutoriais.

A ideia de trabalhar com a NASA pode ser um tanto intimidadora, mas somos gente como vocês

Mas, mesmo assim, problemas inesperados surgiram. “Perdemos metade de um dia porque os painéis solares que projetamos ficaram na sombra de uma antena de outro time”, conta André Carneiro, professor de Engenharia da Computação que orientou os alunos. Além do módulo de habitação e da antena de comunicação, a “colônia lunar” também conta com veículos para locomoção, uma base de lançamento de foguetes, uma fábrica de oxigênio e até instalações para impressão 3D. A NASA pode reaproveitar as ideias desenvolvidas em missões futuras, como em uma que pretende redirecionar um asteroide para perto da Terra.

O esforço durante o processo pode ter sido grande, mas os resultados foram tão animadores que a FACENS já anunciou que busca alunos motivados e engajados para participar de novo no ano que vem. Para os sete estudantes que, pela primeira vez, representaram o Brasil no SEE, fica uma certeza: ter em mãos um certificado de colaboração com a NASA aumenta, e muito, suas chances de garantir um bom emprego.

Estimular a empregabilidade é, justamente, um dos principais objetivos do projeto. Masos jovens também puderam se familiarizar com uma tecnologia avançada de simulação, criar uma rede de contatos no exterior e, de quebra, ainda melhorar o inglês. Nada mal. “Foi uma experiência engrandecedora e, como aluno, tive a oportunidade de ganhar certo reconhecimento”, diz Daniel Rodrigues.

Confira a formação da equipe:

Professores:
Profª Drª Andréa Lucia Braga Vieira Rodrigues
Prof. Me. André Breda Carneiro

Alunos:
Daniel Braga Vieira Rodrigues – 3º semestre Engenharia da Computação
Caio Guilherme Pereira dos Santos – 3º semestre Tecnologia em Jogos Digitais
Eric Saboia – 5º semestre Engenharia da Computação
Guilherme Antunes Romani- 9º semestre Engenharia da Computação
Lucas Alessandro de Oliveira Soares – 9º semestre Engenharia da Computação
Nicolas de Castro Silva – 3º semestre Tecnologia em Jogos Digitais
Victor Augusto Valério de Carvalho – 9º semestre Engenharia da Computação

Fonte: Revista Galileu