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O Burnout e a educação

Léo Miranda

4 de novembro de 2021

O despertador do celular toca, são 5:20, hora de acordar para mais um dia de trabalho mesmo que ele de certa forma já tenha se iniciado, com o sono intermitente, atropelado pelas demandas do dia seguinte que não param de vir à mente. Aulas, notas, provas, planejamento, tarefas inerentes a todo professor, que ao contrário de muitos profissionais, não encerra o seu turno quando as luzes da sala de apagam, quando o sinal que encerra o turno de aulas toca.

No almoço o pensamento descola do que está no prato, da velocidade da garfada, pois o pensamento está longe, pelo menos do corpo que ele coabita, como se fossem separados e não oriundos do mesmo ser, no caso, eu. As poucas horas de sono começam a cobrar o seu preço, já é hora do segundo turno, mas não posso iniciar as aulas desanimado, afinal tenho que dar sentido àquela aula que virá, o desempenho é o que vale, mesmo que ele cobre um preço alto, a exaustão física e mental no final de mais uma parte do dia.

Vencida mais uma etapa do dia, no caminho de casa, tem início a organização do que será feito com o “tempo livre” à noite. Atividade física? Preciso, mas … sempre há um mas. Uma prova que tem que ser entregue no dia seguinte, a aula do dia seguinte que precisa ser revisada, quiçá a do dia depois de amanhã que ainda será preparada. Não posso parar. Meu corpo aguenta, mesmo que os sinais digam o contrário. Parafraseando o psicanalista Maurício Damasceno, “o corpo passa a ser visto pelo uso e não pelo o que é”.

Esses são os sintomas do que o filósofo sul-coreano, Byung-Chul Han chamou de a “sociedade do cansaço”, da sociedade pós-moderna. Mais do que isso, Byung amplia a perspectiva do que chama de excesso de “positividade”, que no caso, poderia ser trocado por excesso de “possibilidades”, que se transforma em cansaço e esgotamento, ou o burnout. Esse distúrbio psíquico descrito na década de 1970, consiste em um estado de tensão emocional e estresse crônicos associados às condições de trabalho desgastantes, típica de profissionais com intenso envolvimento interpessoal. Entre os profissionais mais suscetíveis estão os professores, como destaca o médico e professor, Dr. Drauzio Varella em um artigo publicado em seu site. Os reflexos são muitos, desde maior irritabilidade, dificuldades de concentração, pessimismo, dificuldades com o sono, até a ansiedade e depressão.

Soma-se a esse cenário a diminuição da alteridade, por mais paradoxal que isso possa parecer, o se colocar no lugar do outro, ou mesmo reconhecer que o outro compõe também aquilo que sou, na medida em que nos relacionamos e em nossa relação encontramos o que nos complementa, o que faz com que as coisas tenham sentido, ainda mais na sala de aula, em que professor e aluno trocam a todo momento percepções individuais e coletivas do que se estuda, do mundo em si. Na sociedade do desempenho, o professor não é o que “só da aula” e ele um ser, que existe em sua totalidade.