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Um mapa-múndi noturno ‘online’ para combater a poluição luminosa

Léo Miranda

4 de julho de 2018

Pesquisadores querem conscientizar sobre o impacto da luz artificial com o projeto ‘Cities at Night’

LAURA GÓMEZ MESTRE

O astrofísico Alejandro Sánchez buscava informações sobre fontes de poluição luminosa para sua tese quando encontrou um arquivo da NASA com milhares de imagens da Terra tomadas por astronautas da Estação Espacial Internacional, coloridas e de boa qualidade, mas completamente desorganizadas. Foi assim que, em 2014, teve início o projeto Cities at Night (cidades à noite), desenvolvido por astrofísicos e físicos da Universidade Complutense de Madrid (UCM) para conscientização sobre a poluição luminosa.

Segundo a UCM, os astronautas fazem quase meio milhão de imagens por dia do nosso planeta. A NASA as armazena em um arquivo de acesso livre, embora de difícil acesso. O objetivo desse projeto é organizar todas essas imagens para criar o primeiro mapa-múndi noturno online em alta resolução. Até agora, o melhor mapa noturno da Terra que havia era o do satélite Suomi FPP da NASA, que oferece imagens em preto e branco de baixa resolução.

O Cities at Night começou com “muito sucesso”, diz Sánchez, líder do projeto. “Divulgamos um comunicado de imprensa com a NASA e foi um estouro. Graças a isso, e com a ajuda de voluntários, conseguimos desclassificar praticamente todo o arquivo de imagens em alguns meses”. Mais de 20.000 pessoas ajudaram em uma parte do projeto que ele chama de ciência cidadã. “Poderíamos tentar organizar essas imagens com um computador, mas para entender uma imagem ele precisa de muitíssima potência de cálculo e, no final, não é eficaz”, diz Lucía García, física e gerente do projeto.

Graças ao apoio do STARS4ALL, um projeto europeu de conscientização da população sobre a poluição luminosa, os pesquisadores colocaram em funcionamento três aplicativos para que os voluntários pudessem ajudar nas três etapas que compõem o projeto. A primeira é classificar as imagens e separar as diurnas das noturnas e as que mostram estrelas das que mostram cidades, a segunda é localizar as cidades e saber qual corresponde a cada imagem, e o objetivo da última é colocá-las no mapa.

Mas Sánchez e García indicam que os aplicativos eram um pouco difíceis de usar, então abriram uma campanha de crowdfunding para financiar um novo design e transformá-las em videogames. “Já temos uma grande parte da Europa coberta por imagens de média resolução. Gostaríamos de ter as de alta resolução, algo que requer mais voluntários”, diz o líder do projeto. O objetivo da campanha é obter 12.000 euros e, a cada 1.000 euros arrecadados, doar uma imagem analisada para 12 projetos de pesquisa relacionados à poluição luminosa e seus efeitos.

A construção desse mapa é realmente importante para conhecer dados aos quais os pesquisadores desse campo não tiveram acesso até agora. “As imagens em cores são muito importantes para os pesquisadores porque não é a mesma coisa uma luz artificial branca ou uma laranja, os efeitos são muito diferentes. A luz branca é mais fria e energética”, explica García. “Muitas pesquisas estão sendo iniciadas apenas pelo fato de que as imagens foram colocadas em ordem em ordem e que as pessoas podem conhecer os dados”, diz Sánchez, que enfatiza que “o projeto é 100% público porque o que as pessoas fazem é para as pessoas”.

A luz artificial noturna não é apenas um problema quando se trata de ver as estrelas, também tem efeitos nocivos para a saúde humana

Segundo os cientistas, atualmente está acontecendo uma mudança de iluminação no mundo que está se dando muito rapidamente e portanto é necessário saber agora como a poluição luminosa nos afeta. Além de aumentar a conscientização sobre o desperdício de energia, “o que o projeto pretende transmitir é que a luz artificial noturna não é apenas um problema quando se trata de ver as estrelas, mas também tem efeitos nocivos para a saúde humana”, diz García, que também explica que, entre outras coisas, a luz branca que está sendo usada atualmente afeta o ser humano, produzindo um estado de supressão da melatonina, o hormônio que regula o sono.

O mapa será atualizado conforme o avanço do trabalho de identificação e geolocalização das imagens. “É muito importante. Ao longo dos anos, o mapa vai mudar e será muito interessante poder comparar imagens”, afirma a gerente do projeto. Além disso, os pesquisadores também contemplam o impacto ambiental. “Também estamos trabalhando na criação de mapas de impacto ambiental para que ao ver uma foto de uma cidade se possa saber qual é seu nível de contaminação”, conclui Alejandro Sánchez.

Publicado originalmente em EL PAIS