Uma das principais dúvidas entre aqueles que tentam compreender a organização do Islamismo, principalmente no Oriente Médio, refere-se às diferenças entre Sunitas e Xiitas. Em primeiro lugar é importante destacar que a velha concepção de um grupo mais radical do que o outro é extremamente questionável.
O terrorismo está presente nos dois grupos, o que não quer dizer que todos os islâmicos sejam terroristas (esse é um erro muito grave, na verdade, um estereótipo). Entre os principais grupos que promovem atentados o Al Qaeda é Sunita, assim como o recém criado Isis (Iraque), e o Hamas, grupo radicado na Faixa de Gaza (Israel). Já o Hezbollah, principal grupo terrorista Xiita do mundo, é radicado no Líbano.
Para compreender as diferenças entre esses dois grupos islâmicos, devemos retornar ao século 7, mais precisamente ao ano 632, quando o fundador do Islã e profeta Muhammad ou Maomé faleceu. A crise sucessória teve início basicamente entre dois grupos: aqueles que defendiam a escolha de Ali ibn Abi Talib, primo e genro do profeta, casado com sua filha Fátima. Dessa forma, a sucessão seria contemplada entre os consanguíneos ao profeta. Esse grupo minoritário foi chamado de “Shiat Ali”, ou “Partido de Ali”, os atuais Xiitas.
Por outro lado, o grupo majoritário defendia que o sucessor de Muhammad não deveria necessariamente pertencer ao círculo familiar dele. Ao contrário dos partidários de Ali, os Sunitas (Ahl al Sunna, “o povo da tradição”) acreditavam que a sucessão deveria ficar a cargo de Abu Bakr, amigo pessoal do profeta, o que abriria precedentes para futuros líderes fora sem parentesco com Maomé. Em maior número, os Sunitas venceram a primeira disputa, e Abu Bakr se intitulou Califa (Khalifa Khalifa), palavra de origem árabe que combina as ideias de sucessor e representante.
Abu Bakr faleceu em 634, no entanto, Ali somente conseguiu torna-se Califa em 656, após o assassinato de Uthman, Califa de origem Sunita. Ele, porém, permaneceu no poder apenas 5 anos, sendo também assassinado por um opositor. Coube ao seu filho caçula, Hussein, a rebelião contra os opositores de seu pai. Contudo, Hussein acabou por ser capturado e violentamente assassinado. Essa atitude, acabou por acentuar ainda mais a cisão entre os Xiitas e Sunitas.
Outro ponto importante no tocante as diferenças entre os dois grupos, está relacionada a interpretação da palavra sagrada islâmica, o Corão. Em um trecho de uma entrevista concedida à revista “Aventuras na História”, a professora de História do Islã na Universidade de Georgetown Yvonne Haddad explica:
“a principal distinção entre os grupos vem de sua visão de mundo. Sunitas acreditam que o Corão é a palavra eterna de Deus que coexistia com Ele antes da Criação. Já para os xiitas, o Corão foi criado no tempo e passou a existir quando Deus se revelou à humanidade. Isso faz toda a diferença na maneira como eles leem o livro sagrado. Xiitas consideram que precisam ser guiados para interpretar o Corão na vida diária, pois o livro depende da época e do lugar. Assim, precisam um imã (líder religioso) para ajudá-los a entender a mensagem do Corão. Os sunitas, por sua vez, acreditam que a palavra de Deus é a mesma e vale para qualquer tempo e lugar. Portanto, as opiniões dos clérigos sunitas não são tomadas muito seriamente. E aqueles que clamam por um retorno às interpretações originais são levados muito a sério. Sunitas tendem a ser mais doutrinários.
Trecho extraído da revista Aventuras na História.
Disponível em: http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/confira-como-surgiu-divisao-sunitas-xiitas-696521.shtml.
Fonte bibliográfica: ARANTES, José Tadeu. O maior perigo do Islã: não conhece-lo. São Paulo: Editora Terceiro Nome, Editora Mostarda. 2005.