Por Guilherme Vilela, professor de Geografia da Rede Chromos de Ensino
Deixar o seu lugar de moradia, especialmente quando é também seu local de nascimento, não é uma decisão fácil. A relação dos grupos humanos com o espaço, sobretudo após a sedentarização das sociedades, ficou cada vez mais estreita. À medida que o homem modificava o espaço, este também se mostrou responsável por inserir no sujeito características do lugar que ocupa. Assim, a relação sociedade-meio é um forte elo entre as duas partes.
Deixar para trás toda uma história construída em determinado território, distanciar-se de amigos e entes queridos é uma realidade que se observa em vários países do mundo, principalmente naqueles em que as condições de vida são precárias ou vivem situações de instabilidade, ocasionadas por conflitos ou catástrofes naturais.
Estas duas situações originam os principais tipos de movimentos migratórios. De um lado os MIGRANTES VOLUNTÁRIOS (aqueles que buscam melhores condições de vida), do outro, os MIGRANTES FORÇADOS -REFUGIADOS- (aqueles que se deslocam para fugir de conflitos ou quando são atingidos por grandes catástrofes naturais).
% de Imigrantes
Considerando que estão no continente com maior concentração de conflitos armados do planeta, são nos países africanos que se encontram a maior parte dos refugiados mundiais, habitantes de CAMPOS DE REUGIADOS nas fronteiras entre os países, formando verdadeiras cidades. Vários destes campos, que nascem como assentamentos provisórios, acabam se tornando moradia efetiva destas populações, como observamos na Palestina.
As migrações voluntárias guardam relação com dinâmicas políticas e econômicas atuais e históricas. Das nações em que se observou por muito tempo a exploração de suas riquezas, antigas colônias de exploração, saem a maior parte dos migrantes voluntários mundiais, sobretudo daquelas em que a imposição imperialista terminou há pouco tempo, como exemplo na África. (FIQUE LIGADO! A exploração não acabou apenas mudou de rosto!)
Podemos afirmar que o aspecto histórico se relaciona diretamente com a geografia das migrações. As diferenças econômicas, construídas por séculos de exploração, e o reflexo dos diferentes desenvolvimentos das nações na qualidade de vida das pessoas, motiva o deslocamento dos habitantes de países periféricos, menos desenvolvidos, de maneira legalizada, ou não, para os países centrais, mais desenvolvidos. Desta forma, temos o maior contingente de população migrante, os voluntários.
Como o excesso de migrantes pode acarretar problemas econômicos e sociais para os países que os recebem, várias barreiras, físicas ou jurídicas, são criadas para dificultar a chegada de imigrantes ilegais. Essa situação é muito observada nos Estados Unidos e nos países da Europa, destinos diários de grandes levas de migrantes latino-americanos e africanos. Em um período de crise econômica, como a vivenciada a partir do ano de 2008, esta “situação problema” é potencializada, pois uma economia em período de dificuldade está mais susceptível aos fatores negativos da chegada de migrantes.
Competindo por postos de trabalho e, sobretudo, em tempos de crise, com seu consequente desemprego conjuntural, os migrantes estrangeiros não são bem vistos, sendo alvo de um sentimento XENOFÓBICO, atrelado especificamente ao fato destas pessoas apresentarem origem diferente dos habitantes do país, sendo que estes últimos se sentem prejudicados pela presença dos primeiros.
Enganado está aquele que pensa que o preconceito motivado por origens distintas só acontece entre pessoas de nacionalidades diferentes. No Brasil é comum se observar comentários, posicionamentos e ações discriminatórias em relação a moradores das diferentes regiões. Como um país extremamente diverso, receptor secular de migrantes de diversas nacionalidades, parece que ainda não aprendemos a conviver com estas diferenças, e pecamos no não entendimento de que as cidades, a cultura, a economia, a política, o próprio país, só são possíveis aqui a partir desta diversidade.
As migrações internas no Brasil
Os movimentos internos de migração também se ligam às questões econômicas. O êxodo rural, intensificado a partir da industrialização das cidades e da mecanização do campo; a migração sazonal (ou transumância), em que trabalhadores deixam suas casas e permanecem por grandes períodos em outras localidades para trabalhar só depois retornando – como exemplo dos bóias-frias, originários da região nordeste e do norte de Minas Gerais, cortadores de cana nos canaviais paulistas; a migração pendular, fluxo diário entre municípios contíguos, comum nas grandes regiões metropolitanas de nosso país.
Analisando pela ótica da diferenciação econômica, o Nordeste brasileiro sempre se mostrou área de repulsão de migrantes que se direcionando para as grandes cidades da região Sudeste, áreas de extração de látex e mineradoras no Norte e para o Centro-Oeste (os candangos da construção de Brasília), andaram por esse país, pra ver se um dia descansavam felizes.
Hoje, apesar da continuidade da saída de nordestinos de sua região, o retorno de descendentes é uma realidade. O crescimento econômico do Nordeste, e sim, esta é uma das regiões que nos últimos anos vem apresentando estados com alguns dos maiores índices de crescimento econômico nacional, motiva tanto o regresso como a permanência de seus habitantes.
Para o Brasil, o afluxo de Bolivianos, para trabalhar em confecções de roupas em São Paulo, muitos deles em situações laborais (de trabalho) precárias, análogas à escravidão, são exemplos do que podemos chamar de ESCRAVOS MODERNOS. Os impactos do terremoto no Haiti no começo do século, a liderança com a ajuda humanitária brasileira na reconstrução do país, aliaram-se ao incentivo do governo brasileiro para a vinda de haitianos para nosso país. O crescimento do setor de construção civil, e as obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas, serviram como campos de emprego para os recém-chegados da América Central.
O vislumbrar de uma melhor situação no Brasil trouxe bolivianos e haitianos de forma legalizada, mas a situação crônica de pobreza nestas nações acarreta também um fluxo clandestino de migrantes oriundos destes países.
https://www.youtube.com/watch?v=HAX6HYteA8w
A rota dos imigrantes haitianos
Contudo, vale lembrar que o afluxo de migrantes por aqui não é recente. De portugueses a escravos, japoneses a italianos, não podemos nos esquecer que historicamente nosso país é uma nação de Imigrantes. Essas diferentes nacionalidades formam nossa identidade nacional e são responsáveis por constituir grandes comunidades, como o bairro da Liberdade em São Paulo, onde se mantém a cultura do seu país de origem mesclando com aspectos culturais brasileiros.
Contudo, vale lembrar que o afluxo de migrantes por aqui não é recente. De portugueses a escravos, japoneses a italianos, não podemos nos esquecer que historicamente nosso país é uma nação de Imigrantes. Essas diferentes nacionalidades formam nossa identidade nacional e são responsáveis por constituir grandes comunidades, como o bairro da Liberdade em São Paulo, onde se mantém a cultura do seu país de origem mesclando com aspectos culturais brasileiros.
Então não se esqueça: movimentos migratórios têm como principal motivação as questões econômicas, podendo os fluxos ser internos (nacionais), ou externos (internacionais), mas lembre-se das situações onde esses deslocamentos são ainda mais difíceis, no caso de refugiados e daqueles que sofrem com ataques de xenofobia.