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Laudo confirma vazamento de rejeitos de mineradora em Barcarena, no PA

Léo Miranda

5 de março de 2018

Laudo do Instituto Evandro Chagas divulgado nesta quinta-feira, 22, confirma contaminação em diversas áreas de Barcarena provocada pelo vazamento das barragens de rejeitos de bauxita. Em nota, a mineradora informou que vai analisar o laudo para se pronunciar sobre o assunto.

 

O laudo do Instituto Evandro Chagas (IEC) divulgado nesta quinta-feira (22), em Belém, confirma contaminação em diversas áreas de Barcarena, nordeste do Pará, provocada pelo vazamento das barragens de rejeitos de bauxita da mineradora norueguesa Hydro Alunorte. Em nota, a empresa informou que “acaba de tomar conhecimento sobre o laudo e irá analisar o material para se pronunciar sobre o assunto”.

Moradores de Barcarena denunciaram a suspeita de vazamento no último sábado (17/02). Fotos feitas no município mostram uma alteração na cor da água do rio, que seria a lama vermelha rejeitada na operação da fábrica (bauxita e soda cáustica).

O anúncio da confirmação do vazamento foi feito pelo pesquisador em saúde pública do IEC, Marcelo de Oliveira Lima, contrariando a versão divulgada pela empresa, que negou a contaminação. “Foi constatado que houve vazamento das bacias de rejeitos da bauxita. Fotografamos os efluentes invadindo a área ambiental”, afirmou o pesquisador.

Ligação clandestina para eliminar resíduos

O vazamento afetou as áreas das comunidades de Bom Futuro, Vila Nova e Burajuba. “A empresa fez uma ligação clandestina para eliminar esses efluentes contaminados que estavam acumulados dentro da fábrica para fora da área industrial, contaminando o meio ambiente e chegando às comunidades”, destacou Marcelo Lima.

No material coletado no dia 17 na barragem, na tubulação com ligação clandestina e no igarapé localizado na vila Bom Futuro, os índices de sódio, nitrato e alumínio estavam acima do permitido, além do PH estar no nível 10. “Ou seja, o líquido estava extremamente abrasivo e nocivo aos seres vivos”, destaca o pesquisador.

Alto nível de chumbo

De acordo com o laudo do IEC, a análise das amostras também revela um nível alto de chumbo, que, com o consumo contínuo, pode gerar câncer.

“Essa contaminação é nociva às comunidades que utilizam os igarapés e rios em busca de alimento, com a pesca, e também o lazer. Além disso, há a contaminação do meio ambiente como os seres vivos e plantas”, alerta o pesquisador.

Segundo a perícia, a empresa não tem capacidade de tratar os seus efluentes, e o IEC recomenda que, neste momento de chuvas fortes, seja reduzida ou suspensa a produção, porque as bacias não irão suportar o grande acúmulo de material. “Se a empresa continuar com a elevada produção, novos vazamentos ocorrerão sem dúvida alguma, principalmente neste período de chuvas intensas”.

“Outro fator que detectamos foi que não há um plano de alarme emergencial da empresa para a comunidade caso haja algum rompimento ou desastre”.

Inquéritos

Já foram instaurados dois inquéritos pelo Ministério Público do Pará para apurar as denúncias de vazamentos ocorridos em Barcarena. Um inquérito civil foi instaurado pela Promotoria de Justiça de Barcarena e está sendo elaborado a partir de informações colhidas pelos promotores de justiça Laércio Guilhermino de Abreu e Daniel Barros.

O segundo inquérito, instaurado pela promotora Eliane Moreira, da 1ª Região Agrária, apura os impactos socioambientais possivelmente provocados pelo vazamento, em especial os que podem ter afetado comunidades rurais e territórios de Barcarena onde vivem ribeirinhos e comunidades tradicionais. As atividades da Hydro Alunorte também serão alvo de investigação durante este procedimento.

Em nota, o Governo do Pará informou, nesta quinta-feira (22), que está analisando o laudo do Instituto Evandro Chagas e definindo ações a serem realizadas. As ações serão informadas logo mais. Ainda segundo a nota, pelo Governo do Pará, participam a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Saúde Pública, de Desenvolvimento Econômico, Companhia de Desenvolvimento Econômico do Pará, além da Defesa Civil.

Matéria do G1 – Com informações do Climatempo.